domingo, 4 de janeiro de 2015

Sobre a morte e fotografias

No dia 30 de dezembro de 2014 meu avô faleceu. Fez a passagem. Evoluiu. Tanto faz como as pessoas chamam isso. O fato é que a morte me mostrou sua nova faceta, neste dia. Há cinco dias atrás. Me encontrava em São Pedro da Serra, distrito no qual fui criada. Envolvida nas preparações para a virada de ano. Junto a meus amigos de infância e rodeada de amor. Senti em meu peito certo desfalecer. Mas soube dentro de mim, que o melhor que eu poderia fazer naquele momento seria seguir sorrindo e sendo eu mesma. Ali, naquele lugar tão nostálgico, que me fez construir boa parte do que eu sou hoje. Sem tirar nem por do que chamamos de bom ou mau caminho. Em minha forma mais fiel de mim. Os dias passaram, os banhos de cachoeira, rios. As trilhas seguidas de mãos dadas aos amigos. Que fazem de mim, também, o que sou. Fotografias mentais de momentos únicos. O cenário da reconstrução de um momento que já se concretizou. Poder refazer o que se fez, sendo ainda mais um individuo genuíno. Ao chegar a minha casa hoje, depois de uma tempestade na qual eu quase me dei um pouco mal - dependendo do ângulo da cidade, em que há o risco de ser visto em algum enquadramento algumas árvores caídas e rios transbordando - resolvi reviver fotografias. A morte, as vezes, nos dá saudades. Nos faz querer rever aquele ente que se foi, numa espécie de selo do acontecimento. Como se aquele momento em que as fotografias se perdem pelas suas mãos e colcha fosse de fato seu atestado de óbito. E é ali, nessa certificação que a ficha não cai. A ficha da morte já havia caído. Seu coração acalmado por saber que, agora, não mais seu querido - distante - avô descansa de sua tão árdua jornada. Marcada de superações. Exílios, autoconhecimento, luta pela sua formação, dedicação, exemplo. E ainda de perseverança de contornar uma trilha de tantos anos numa batalha contra as células de seu próprio organismo. Admito não ter sido a neta mais presente, ou ele mesmo o avô mais envolvido. Mas tenho que falar sobre esta admiração platônica que corre por meu sangue. De deixar os olhos brilhando de poder dizer que este homem que colocou minha mãe e meus maravilhosos tios no mundo faz parte de quem sou. Um orgulho que enche o peito de dizer que sou neta do Veterinário mais inspirador e batalhador que eu conheci. Um homem que fez da sua profissão a sua vida. Que deu seu sangue, seu suor e sua vida por uma profissão que não só admiro mais do que tudo no mundo, como escolhi com todo amor que me cabe para ser a minha. Nunca é indolor perder uma parte de si, uma pessoa que faz parte da sua essencia. mas é gratificante que até sua partida seja responsável por fazer brilhar ressuscitar tantas outras partes de mim. Gratidão, meu avô, que os guias te encaminhem a luz, para que você possa ainda sim permacer brilhando por aí.

domingo, 9 de novembro de 2014

Seus passos ainda apareciam marcados na estrada, de uma forma que me cortava o peito. Preciso respirar. Tenho que respirar. E finalmente sentir em mim que o que não é meu não me pertence. Falo das palavras que você não disse, das atitudes que você não tomou, dos abraços e falsas juras. Cada um é o que é. Faz o que lhe cabe e vive em suas próprias dimensões. Esse eu que me quebro ao elaborar suas frases em diálogos mentais. Aquela mania de expectativa. Esperar algo que não será, porque simplesmente as coisas são assim. As vezes elas não são. Então, passo por cima das marcas dos seus sapatos e tento ignorá-los de modo a seguir a trilha que eu escolhi. As minhas escolhas. As minhas expectativas de mim, dessas que não preciso me contentar apenas com o tangenciamento dos objetivos. Os planos que eu fiz e não preciso desfazer. As estradas que escolhi caminhar sem você. Sem ferir, sem refazer. Você escolheu não dizer nada e eu escolhi todas as palavras, cores, cheiros e sabores que me couberem.

terça-feira, 16 de julho de 2013

(De)volta

Gente que mexe com a gente, palavras que mexem com a gente, o frio que também mexe. Palavras que desconcertam, músicas que nos dão calafrios. E os abraços que nos desfazem como nós. Olhares, bocas, vultos. Mãos que se entrelaçam. Pés que fogem. Vozes que remetem a nostalgia. O perfume daquele estranho que passa na padaria (Você conhece aquele perfume). E tudo de novo.. pessoa, lugar, palavras, músicas, a temperatura, abraços, o gosto, a boca, a comida, as mãos, o cheiro, a cama, o lençol...a vontade. Essa vontade. Pare de se esconder, da vida não dá pra fugir. Sendo hoje ou amanhã tudo volta ao lugar e você se desfaz novamente.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O ônibus estava partindo, eu ainda deveria pegar o avião daqui a umas três horas. Meu ipod tocava Kim Carnes e meu coração pulava. Nada ficava pra trás, só uma vida inteira.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Tíquete

Abri a conta no banco e já economizei a metade da grana pra pegar minha mochila e partir. Queria ver seu rosto, saber como ficará sem mim. Eu sei que bem. Mais toda vez que vou partir parte de mim apenas finge que vai, parece estar preocupada demais em não ter seus beijos novamente, seu abraço. Aqui existe uma vida inteira, meia vida. Eu já disse, eu apenas habito os lugares em que vou e ultimamente meus sorrisos são ocos. Desculpe se não posso mais regar seus dias com a felicidade que costumávamos ter. Os dias têm passado sem mim, eles passam variadamente, as vezes parecem que se arrastam e as vezes eu nem os vejo. Por isso preciso ir. Peço a você que me deixe ir, você não consegue. Talvez nem mesmo eu.
Tenho que te fazer entender que não há sentido em viver com os meus não compromissos. Cansei de dar os telefonemas para desmarcar as coisas, agora já não o uso. Um dia eu tenho que voltar pro mundo, mas meu mundo não é bem feito de pessoas. Quero me recolher no mundo, eu sou feita de mundo, mas é um inanimado. Vejo as árvores correrem. Troquei o metro pelo onibus para vê-las. Eu preciso reviver meu romantismo e essas coisas tolas que o 'estar de passagem' me fazem sentir. Meu tíquete de ida e só de ida.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mente

Fala de amor. Do vento que batia em seu rosto pela semiabertura do capacete da motocicleta. Fala da coragem que você teve naqueles dias de correr um mundo com um estranho - seriamente conhecido. Fala de amor. Do verde que vibrava enquanto caminhava sozinha por caminhos desconhecidos. Fala da vontade de gritar que te pedia em silêncio aos ouvidos. Fala! Diz pra mim das vontades, das verdades e da experiência tola de tomar um guaraná antártica e ver os olhos banharem-se em lágrimas. Me conta dos sorrisos, dos amigos, dos esquisitos graciosos. Não fala das mágoas, dos pseudo-ódios, das loucuras que você não cometeu por medo. Me fala dos caminhos por onde andou caminhando a toa, na zona de seus pensamentos. Mas finge que eu acredito que tudo isso é verdade. Porque eu sei que é preciso amar e é preciso mentir. Então se é pra mentir, mente esse amor enorme que você tem pelo mundo.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Daquela vez

Lembra quando nos partimos? Daquela vez que eu disse que partiria sem rumo, pra um lugar qualquer que fosse? Sem rumo, sem olhos que me guiassem. Num tato louco de mim mesmo. Eu ainda não fiz essa viagem. Tive medo de partir de ti, mas acabei por partir de mim mesmo.
Todas as certezas desmoronam um dia, todas, sem que haja exceção. É que num dia a gente é e no seguinte nem sempre.
Não haviam mochilas, e me lembrei de um filme que eu assistia sempre que me sentia enclausurado, aquele “ O escafandro e a borboleta ”. Pois bem, diga-se de passagem, que o filme me fazia olhar os problemas – pseudos, bem o sabemos - num ângulo de tamanha mediocridade e assim eu seguia nos meus passos lentos ou não. Até agora! Chega uma hora que você se dá conta que não são bem problemas, pra mim era ausência de mundo. Era álcool e festa e amigos e música e nenhuma paz. No fim, na cama, sozinho, não há nada. Você sabe.
Então, aquietar-me por um tempo, com meus filmes, filosofias e as músicas rasteiras de minhas reflexões bastavam pelos meses seguintes. E minhas viagens consistiam-se nuns livros loucos que eu achava - ou me achavam – por uns sebos e livrarias da vida. Mas faltava algo que eu não conseguia de forma alguma identificar.
Uma hora você voltou e temporariamente tudo o mais. Tinha meus tais objetivos, que agora eu nem me lembro mais, e o trabalho, a minha insistência acadêmica também. Tudo certo, tudo em ‘paz’.